Entrevista com o administrador do Real Marina Hotel e SPA
Esta entrevista foi retirada de o 'postal do Algarve', impresso, com a devida autorização, edição n.º849 .
Turismo de alta qualidade é a nossa razão de existir
O Grupo Bernardino Gomes nasceu em Lisboa há cerca de 50 anos e há 15 enveredou pela hotelaria. A primeira unidade nasceu em Lisboa, mas mais sete se seguiram. No Algarve, em Olhão, um concelho quase "virgem" em termos de grandes empreedimentos turísticos, vai receber a terceir unidade do grupu a ser instalada no Algarve: o Real Marina Hotel & SPA.
António Pereira, administrador do grupo, levanta o véu sobre o que será esta unidade
hoteleira de cinco estrelas, associada a um empreendimento de turismo residencial que promete fazer nascer uma "pequena cidade" dentro da cidade de Olhão. Um projecto que promete também colocar aquele concelho no caminho do desenvoívimento turístico verificado noutros concelhos da região. Um desenvolvimento que, na sua perspectiva, teve pontos menos bons, que podem ser corrigidos se no futuro se apostar exclusivamente na alta qualidade.
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Entrevista de
Henrique Dias com Helga Simão
POSTAL do ALGARVE - Qual a razão de terem escolhido Olhão para realizarem investimentos em novas estruturas hoteleiras?
ANTÓNIO PEREIRA - Quem investe no sector imobiliário turístico-hoteleiro procura, em primeiro lugar, a oportunidade. No nosso grupo, em especial, gostamos de ir para sítios que ainda não estejam muito desenvolvidos. Essa é uma mais-valia importante no negócio. Achámos que Olhão e a Ria Formosa ainda não estavam desenvolvidos e tinham muito potencial nesse aspecto, nomeadamente nas vertentes turístico-resi-dencial e hoteleira.
O que é que os levou a apontar para o formato da estrutura prevista para a baixa de Olhão?
O desenho daquela zona já estava mais ou menos formado, de acordo com o pla-
no de pormenor desenvolvido pela Câmara. Nós demos-lhe uma volta no sentido de o valorizar, em termos de arquitectura, conforto, embelezamento exterior e criação de piscinas no topo dos edifícios, aproveitando aquela vista sobre a Ria Formosa. É um investimento de mais de cem milhões de euros. O envolvimento de toda a zona abrangida por esta área é de cerca de 30 hectares, implicando uma requalificação daquela parte nobre da cidade, apontando para um investimento tota! de cerca de 200 milhões de euros.
Quantos apartamentos estão previstos para este empreendimento?
Mais importante do que o número de apartamentos, é que estamos a falar de uma zona nobre da cidade que necessita de investimentos deste tipo. Olhão é uma cidade que não se tem desenvolvido a nível turístico. O que é importante é que se está a fazer algo de novo ao nível do turismo residencial no Algarve. Para além do sol e praia,
é possível em cidades como Olhão fazer o chamado turismo residencial e captar clientes e novas comunidades estrangeiras que não só vêm passar férias mas também fixar-se em várias partes do ano. Estamos a falar de uma área de 30 hectares, que envolve uma zona de construção habitacional relativamente grande. Vamos criar urna área comercial, uma avenida, uma alameda, uma versão moderna da Rua de Santo António, em Faro, ou duma rua das lojas, em Portimão. Será uma zona com espaço, uma alameda que terá de um lado ao outro uma largura de 30 a 40 metros, uma área com boas iluminações, com urn material urbano de características semelhantes ao utilizado hoje em cidades mais modernas, nomeadamente na Europa. É possível fazer isso porque são projectos novos.
Que outros projectos vão nascer em Olhão?
O Hotel de cinco estrelas da cadeia Real Hotéis, que é um projecto muito especial a nível do Algarve. Não tenho dúvida nenhuma que qualquer concelho do Algarve gostaria de ter uma obra destas. É de valorizar todo o grande entusiasmo que o presidente da Câmara de Olhão teve e de ter percebido, desde o princípio, que aquilo que se estava a propor não era mais do que aquilo que seria o mais adequado. Não é fácil gerir um projecto destes. Quando um projecto está a ser muito observado, tem grandes res-ponsabilidades para quem o faz. Quem o faz tem de pensar que está a fazer uma obra que vai ser vista por muitos olhos e vai ser analisada e criticada, no bom ou no mau sentido. Ê preciso ter um sentido de grande responsabilidade e pensar que estamos a fazer qualquer coisa de importante.
Algarve teve o desenvolvimento turístico possível
Houve uma preocupação no sentido de integrar este projecto a nível paisagístico e ambiental?
Hoje, estes projectos não podem, de modo algum, alhear-se destas questões. O Algarve foi feito de uma forma desorganizada, desordenada, foi aquilo que foi possível fazer na altura. Foram coisas que aconteceram noutras zonas da Europa, nomeadamente em Espanha, Itália e França, Não nos podemos envergonhar daquilo que fizemos, porque outros tambem o fizeram. Se calhar podemo-nos orgulhar de, a partir de determinada aítura, termos caído em nós e começado a procurar fazer melhor. Hoje em dia, não só porque não é admissível mas porque também não faz sentido, já não é possível continuar a fazer o que se tern feito até hoje. Tudo tem de ser feito pensadamente. Não só devido às preocupações ambientais mas também porque quem compra o produto, seja ele turístico ou hoteleiro, são pessoas que já têrn outras exigências. Não podemos desenvolver empreendimentos sem ter esse tipo de preocupação. As preocupações em termos ambientais e de poupança de energia têm de estar presentes em qualquer projecto hoteleiro de dimensão.
Podemos falar do surgimento de uma pequena cidade dentro de Olhão?
Sim. A cidade de Olhão já não é uma cidade propriamente pequena. Mas, pelo investimento feito, peia dimensão do empreendimento relativamente ao resto de Oíhão e, principalmente, pela forma ordenada, pensada e pela sua localização, que faz com que todos os que visitem Olhão tenham de por ali passar, é um marco importante para a cidade de Olhão, não só em termos imobiliários, mas também, em termos da componente turística deste empreendimento. Este empreendimento podia não ser turístico, não arrastar outras comunidades estrangeiras, não criar maís-valias, mais postos de trabalho, não criar riqueza. Não estamos a fazer uma zona dormitório, estamos a fazer uma zona que vai ter o seu desenvolvimento e vai crescer com a cidade de Olhão, onde existem imensos restaurantes e a zona de animação dos Mercados de Olhão.
Que futuro prevê para o concelho de Olhão a nível turístico-hoteleiro?
Todas as zonas turísticas e hoteleiras começaram do nada, com o aparecimento por acaso de algum empreendimento que marcou e trouxe outros atrás. A própria dinâmica vai levando a que o desenvolvimento turístico se faça. Neste momento, Oíhão já tem um empreendimento que é o Vila Monte, que já é uma referência no Algarve, pertencendo ao grupo Quinta das Lágrimas. Locaíiza-se em Moncarapa-cho, que nem sequer é uma zona conhecida turistica-mente. E Oíhão vai passar a ter o Hote! Real Marina, o nosso hotel. Esta zona turís-tico-residenciai é muito importante. Há outros projectos, como um na Quinta do Marim, que a própria Câmara de Olhão está a tentar que se desenvolva. É lógico que Olhão não é um concelho muito grande, não é um concelho que tenha muitas zonas para poder desenvolver. Mas só o futuro o dirá. Se há cinco ou seis anos se dissesse que Oíhão iria ter um hotel de cinco estreias, um Vila Monte e um empreendimento turístico-residenciaí como o que vamos fazer, provaveímente ninguém acreditava. Quando o presidente da Câmara mostrou as imagens do projecto que íamos fazer a várias pessoas, muitos achavam que aquilo nunca iria ser feito.
Olhão pode receber
mais empreendimentos
turísticos
Podem surgir outros empreendimentos?
O tempo e a dinâmica que a autarquia tiver para apoiar os empresários que aparecerem são factores importantes. Fala-se que na antiga Fábrica junto ao nosso empreendimento vai aparecer um aparthotel da cadeia Meliá. Estamos a falar de muita coisa. Para quem neste momento ainda não tem nada, o futuro é risonho.
Quando é que vão começar as obras do vosso empreendimento?
As obras do empreendimento e do hotel estão projectadas para terem início em Setembro próximo.
Olhão ficou a ganhar por não ter passado pelo grande desenvolvimento turístico das décadas de 70 a SÓ?
Às vezes o chegar mais tarde não é desvantagem. Por brincadeira costumo dizer que uma corrida não se ganha por correr muito, ganha-se por chegar em primeiro lugar. É preciso saber correr, saber correr com cabeça. Acredito que por Olhão ter algumas vicissitudes e haver outros locais com melhores condições para se desenvolverem turisticamente, até agora não tenha aqui chegado a oportunidade. O presidente da Câmara de Olhão está a ser intransigente e determinado naquilo que ele entende que é uma mais-va-lia para o concelho em termos turísticos e hoteleiros. Não está a aceitar qualquer projecto. Não está a ir pela via do facilitismo, no sentido de que qualquer projecto serve. Para quem investe, e muito, como é o nosso caso, isso é uma segurança. É sinal de que estamos no bom caminho e a autarquia também está a perceber qual é o melhor caminho.
Governo tem apostado no Algarve ?
Como vê a actuação do Governo a nível do sector turís-
tico?
O próprio Governo também apostou fortemente no turismo, nomeadamente no Algarve. Um facto que eu também louvo, na medida em que, em certas e determinadas alturas, se quis abandonar o Algarve porque jã tinha muita coisa. Dizia-se que o Algarve tinha muita coisa má e já não se devia fazer mais nada, devendo-se apostar noutras regiões. Eu acho que, quando já se tem aquilo que é necessário ter, mesmo que se tenha feito mal, deve-se corrigir e aproveitar as sinergias de uma região. Não podemos pensar que vamos fazer turismo em zonas desertiflcadas. Vamos fazer melhor turismo onde existe turismo. Se está mal corrija-se e, a partir daqui, faça-se bem. É o que é necessário fazer e o que eu acho que, face às novas regras, nomeadamente do Plano Regional de Ordenamento do Território do Algarve, vai ser feito e pensado. O Algarve, ou "Allgarve", um ou outro, é muito importante para a economia nacional. O turismo é um daqueles sectores onde, de imediato, se pode criar receitas.
Que balanço faz dos programas de animação turística?
Em termos de animação, nunca se fez no Algarve aquilo que se está a fazer agora. E os frutos vão ser colhidos muito rapidamente. Este ano vão ser investidos quase três milhões de euros.
Está optimista?
Não estou céptico, mas também acho que, nestas situações, não se deve ser optimista. Para se fazer tudo isto é preciso trabalho, uma conjugação muito grande com todas as entidades. Há muita coisa que ainda se pode fazer. O Governo tem estado a conjugar esforços e a ultrapassar dificuldades burocráticas que fazem parte da nossa organização. Penso também que, da paite das autarquias, lhes irá ser dado mais protagonismo. Recentemente, o primeiro-ministro reuniu com todos os autarca do Algarve, tanto quanto sei, porque se reuniram num dos nossos hotéis, o Hotel Real Santa Eulália, e estiveram a trabalhar até depois das três da manhã, a tomar decisões importantes. A conjugação disto tudo é que pode levar a que o Algarve seja aquilo que todos nós desejamos. Quanto a isso estou optimista. Para se poder investir é preciso haver confiança. E a confiança é dada pelo poder que está instituído. Sozinhos os empresários não podem fazer as coisas. Também não acho que o poder tenha de proteger os empresários, ou tenha de ser proteccionista.
Há uma nova
actuação por parte
do Governo
Qual deve ser a actuação do Governo?
O poder deve ser um motor da economia em que os empresários acreditem e sintam que têm segurança. Depois, são os empresários que têm de ter imaginação para pôr a economia a andar e todos os sectores a produzir.
A borucracia é vista como um dos grandes entraves ao desenvolvimento nacional.
Qual é a sua opinião?
Acho que esse é um discurso estafado. É verdade, mas vamos deixar de pensar assim porque senão, daqui a dez anos, andamos a dizer a mesma coisa. O primeiro-ministro, o ministro da Economia e todos os ministros ligados ao sector têm o cuidado de referir isso, referindo que, de uma vez por todas, a circunstância vai ser diferente. Não vale a pena estarmos a falar estafadamente neste discurso. Vamos aguardar que o Governo e as entidades que superintendem em todas essas áreas, nomeadamente administrativa, de licenciamento, dos planos de urbanização, chamem a si certos e determinados projectos. O Governo tem-no feito, desbloqueando projectos que se arrastavam há anos. Foram desbioqueados dois empreendimentos para a Meia Praia, em lagos, e há dois hotéis que vão estar concluídos até final de 2009, nos próximos três anos, incluindo o nosso, em Olhão. Os projectos da Meia Praia arrastavam-se há 10, 15 ou 20 anos e em dois anos foram resolvidos.
Há uma nova actuação por parte do Governo?
Estes aspectos mostram que da parte das entidades políticas responsáveis há sobre este assunto uma ideia que não ê só discurso. O ministro da Economia disse, "nós fizemos a nossa parte, agora os senhores vão ter de fazer a vossa e, dentro de dois ou três anos, cá estamos para cobrar da vossa parte â pressa que tinham em que as coisas estivessem despachadas". Não respondo pelos outros, mas, da minha parte, espero que o ministro não tenha de me "puxar as orelhas". Não vale a pena continuarmos a falar do discurso da burocracia. Temos é de começar a fazer bem.
Primeiro hotel do grupo nasceu há 15 anos
Qual é o historial ao Grupo Real?
Este grupo teve início há cerca de 50 anos. O grupo iniciou-se na área da construção e imobiliária. Começou com o João Bernardino Gomes, que faleceu há um ano e meio num acidente de automóvel, e dele fazem parte pessoas que já lã trabalham há muitos anos. Tal como eu já estou no grupo há 30 anos, ha pessoas que já ali estão ha 20, nomeadamente arquitectos, engenheiros, pessoas ligadas à área administrativa e financeira. O grupo começou na área da imobiliária em Lisboa. Em 1977, por via de um terreno aqui no Algarve iniciámos a nossa actividade nesta região. Por estarmos ligados à área turística, enveredámos também por esse caminho, numa área que abrimos, inicialmente não de uma forma tão efectiva como hoje. Ha cerca de 15 anos, em Lisboa, decidimos abrir a primeira unidade, o Hotel Real Parque e assumidamente idealizámos uma cadeia de hotéis. E foi isso que aconteceu.
Quantos hotéis temo grupo?
Temos esse hotel em Lisboa, que é um hotel de quatro estrelas, o Real Palácio de cinco estrelas, o Real Oeiras, que tem a classificação de quatro, o Real Suite Hotel, outra unidade de quatro estrelas também localizada em Lisboa. Abrimos recentemente o Hotel Real Villa Itália, que é em Cascais e resulta da recuperação da casa onde viveu o último Rei de Itália, sendo um hotel de cinco estreias. No Aigarve, começámos pelo Real Hotel Belavis-ta, de quatro estreias e há três anos abrimos o Grande Real Santa Eulália, em Albufeira, um hotel e resort de cinco estrelas que é já uma referência no Algarve.
O que é que o diferencia?
Fizemos qualquer coisa de novo. Hoje fala-se muito em Resorts e Spas e nós há três anos abrimos uma unidade hoteleira que era Resort e Spa. Na apresentação que fizemos do Real Marina, eu referenciei que ficava muito satisfeito por só se falar nesse tipo de empreendimentos quando nós há quase quatro anos já o tínhamos feito, quando poucas pessoas falavam disso, inclusive na Direcção Regional de Turismo tivemos de pedir autorização para usar o nome de Resort e Spa, porque nada disso havia. Agora, vamos abrir o Real Marina, em Olhão, que será o nosso oitavo hotel. É um hote! de cinco estrelas, na linha do que vamos continuar a fazer. A não ser numa circunstância muito especial, muito dificilmente deixaremos de fazer hotéis de cinco estrelas. E só estamos interessados em fazer uma coisa que reuna turismo residencial e resort-hotéis para que possamos fazer uma conjugação daquilo que pensamos ser o futuro da área turístico-hoteleira e residencial.
Não descartamos
a hipótese de investir
no estrangeiro
Em que outros projectos estão envolvidos?
Adquirimos recentemente uma grande propriedade em Vila Nova^de Mil Fontes, no Alentejo. É uma área de 700 hectares que será o futuro Real Vila Formosa e é talvez o primeiro empreendimento do país em que há uma conjugação entre a hotelaria tradicional, o turismo e hotelaria de natureza. Vai ser unia zona com uma área de intervenção de 250 hectares, que vai ter golfe. Vão sobrar entre 300 a 350 hectares, que irão ser única e exclusivamente em turismo de natureza, desde a caça, aos desportos radicais e aos passeios. A visão mais moderna daquilo que é fazer ecoturismo vai aí ser elevada ao máximo do potêncial.
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